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Cultura em Jandira: Entre a Falta de Gestão e o Descompasso com a Classe Artística

Por Baddini, editor

Nos últimos anos, Jandira vinha demonstrando avanços importantes no campo cultural — iniciativas, festivais, prêmios e ações que davam voz aos artistas locais e fortaleciam a identidade cultural da cidade. No entanto, o cenário atual parece caminhar em direção contrária, gerando estranhamento tanto entre artistas quanto entre os moradores.

Desde a recente mudança na gestão da Secretaria de Cultura, as incertezas se multiplicam. A percepção predominante entre os fazedores de cultura é de que a pasta ainda não encontrou seu rumo. Enquanto alguns atribuem a situação à falta de gestão, outros dizem que é apenas “o jeito de governar” do atual grupo. Porém, analisando os fatos, o que se vê é um conjunto de ações desencontradas, cancelamentos sem explicações claras e uma aparente desconexão com a comunidade cultural.

Um dos episódios mais comentados foi o edital de premiação para artistas locais, que chegou a ser lançado, mas foi posteriormente cancelado — sem uma justificativa adequada, segundo relatos da própria classe artística. O cancelamento gerou frustração e desconfiança, especialmente porque o lançamento inicial não teria cumprido plenamente as exigências legais, criando expectativas que depois se transformaram em indignação.

Posteriormente, um novo edital foi aberto, com a intenção de “tapar o buraco” deixado pelo anterior. No entanto, artistas apontam que ele foi elaborado de forma confusa, com regras de participação desequilibradas e interpretações duvidosas quanto à inclusão de coletivos culturais. Para muitos, o processo evidenciou falta de diálogo e sensibilidade com as particularidades da cena cultural jandirense.

Outro ponto que gerou questionamentos foi a ausência da tradicional Festa Junina, evento que historicamente movimentava a cidade e criava oportunidades para os artistas locais. Embora houvesse recursos destinados à festividade, nada aconteceu — nem mesmo uma versão reduzida ou simbólica que pudesse valorizar a produção artística local.

O mesmo silêncio recai sobre a Semana do Hip Hop, que vinha sendo um marco no calendário cultural de Jandira nos últimos anos. Segundo fontes do próprio governo, havia verba destinada ao evento, mas até agora não houve nenhuma movimentação oficial ou divulgação.

O edital de chamamento Criarte, que deveria ser um espaço plural e democrático para a expressão artística, também vem sendo alvo de críticas. Há relatos de que o local estaria sendo utilizado de forma seletiva, privilegiando determinados grupos e excluindo artistas que não se enquadram em certos perfis. Se confirmadas, tais práticas representam um retrocesso perigoso e um sinal de que a política cultural da cidade está perdendo seu caráter inclusivo.

Sobrou até o para o Gonzaga, Teatro Municipal Luiz Gonzaga.

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Mais uma polêmica surgiu recentemente com a substituição da pintura externa do Teatro Municipal Luiz Gonzaga. A antiga obra, uma homenagem ao “Rei do Baião”, foi apagada e substituída por uma imagem de uma figura indígena. Embora o tema tenha relação com o nome da cidade, a troca gerou indignação entre artistas e frequentadores do teatro.

“Era possível valorizar a cultura indígena sem apagar uma homenagem tão significativa. Existem dezenas de escolas e espaços públicos que poderiam receber a nova pintura”, comenta um artista plástico local.

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Pintura atual da Lateral do Teatro Municipal de Jandira – 12/10/2025 – Foto: Nick Jason

Festival de Música de Jandira

Para completar o quadro de incertezas, aproxima-se o período do Festival de Música de Jandira (FestJan), que nos últimos três anos consolidou-se como um dos principais eventos culturais da cidade. Até o momento, porém, não há sinal de editais ou chamamentos públicos, o que leva a crer que o evento também poderá não acontecer em 2025.

Curiosamente, o atual secretário de Cultura é o mesmo que responde pela Secretaria de Comunicação — duas pastas de extrema relevância, especialmente por estarem diretamente ligadas à organização da Festa Junina e à divulgação das ações culturais. Nossa redação procurou esclarecimentos sobre o novo titular da Cultura e foi informada que ele se encontra no Japão, em visita à cidade-irmã de Kameoka. A questão que fica é: trata-se de uma missão diplomática ou de uma viagem pessoal?

Diante de tantos desencontros, o que se pergunta é: o que aconteceu com o projeto cultural de Jandira? Será que todo o esforço de valorização da cultura local, construído ao longo dos últimos anos, se perdeu?

O que se observa é um descompasso evidente entre gestão pública e classe artística — um abismo que enfraquece a identidade cultural da cidade e desmotiva quem vive e respira arte.

Enquanto aguardamos respostas das secretarias envolvidas, deixamos aqui nossa reflexão: a cultura não pode ser tratada como um experimento de gestão. Ela é a alma de uma cidade, e quando negligenciada, deixa de pulsar — levando consigo o orgulho e o pertencimento de seu povo.